Nos cadernos e livros das crianças, a maioria dos heróis brasileiros, escritores e histórias revolucionárias de estrangeiros e de descobertas é composta por personagens brancos. Isso é um problema para a comunidade quilombola Rio dos Macacos, em Simões Filho (BA), liderada pela agricultora Rose Meire Silva, de 46 anos. Ela acredita que as crianças e jovens da comunidade precisam reconhecer suas histórias e heróis, pois são pessoas pretas.
Rose Meire passou a se informar sobre a Lei 10.639, que há 22 anos tornou obrigatório o ensino de cultura afro-brasileira nas escolas brasileiras. Ela começou a visitar escolas vizinhas à comunidade para cobrar que o currículo seja inclusivo. As crianças têm que andar pelo menos 14 quilômetros para chegar às escolas e, às vezes, ficam decepcionadas com o que ouvem em sala de aula.
Pesquisadoras em educação e direitos humanos, como Gina Vieira e Luiza Mandela, defendem que a busca por direitos não tem relação com caridade ou concessão, mas sim com a luta por direitos. Elas consideram que a Lei 10.639 é um respaldo para quem trabalha em sala de aula com esses temas da cultura afro-brasileira. Gina Vieira afirma que há razões para comemorar os 22 anos da lei, pois possibilitou iniciativas positivas nas estruturas educacionais e o interesse de professores na busca de informações sobre a temática.
As pesquisadoras também defendem que a legislação precisa ser aperfeiçoadas. Elas consideram que faltam disciplinas obrigatórias para os cursos de licenciatura se aprofundarem nesses temas e que há resistência de profissionais do ensino público e privado. Elas também lamentam que sete em cada dez secretarias municipais de Educação não realizam nenhuma ação ou desenvolvem poucas ações para implementação do ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas.
O Ministério da Educação defendeu que houve avanços significativos em 22 anos da Lei 10.639. Eles lançaram a Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola (PNEERQ) e instituíram o feriado nacional de 20 de novembro, em homenagem à Consciência Negra e a Zumbi dos Palmares. O ministério também realizou pesquisa para monitorar a implementação da educação para as relações étnico-raciais e da educação escolar quilombola.