A 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária, que aconteceu em São Paulo, foi um espaço para entender como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) funciona como coletivo e para conhecer as experiências individuais de pequenos agricultores de todo o Brasil. Durante o evento, foi possível ultrapassar a linha da superficialidade e entender as articulações que essa categoria profissional tem feito ao redor do mundo.

Um dos participantes da feira, o produtor rural Adailton Souza Santos, de 56 anos, é um exemplo de como a consciência ambiental pode mudar a forma de produzir alimentos. Santos, que é membro do MST há 11 anos, começou a cultivar desde criança, em sua cidade natal, Juazeiro, na Bahia. No entanto, foi somente após se juntar ao MST que ele começou a produzir de forma orgânica e agroecológica.

“Eu sempre trabalhei de forma convencional, nunca de forma agroecológica, mais correta, com o cuidado com o meio ambiente”, relata Santos. “Mas hoje, graças à consciência que adquiri no movimento, comecei a produzir de maneira correta, orgânica”.

A mudança de Santos é um exemplo de como a conscientização ambiental pode levar a uma produção mais sustentável. No entanto, a realidade é que muitosSmall agricultores ainda enfrentam desafios para produzir de forma sustentável, devido à falta de acesso a recursos e tecnologia.

De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 2024 houve um aumento expressivo de ocorrências de contaminação por agrotóxicos, com 276 casos registrados. Esses números são confirmados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Net), do Ministério da Saúde, que registrou 1.530 casos de intoxicação por agrotóxicos agrícolas no país, de janeiro a abril deste ano.

Para Santos, a mudança para a produção orgânica e agroecológica é uma questão de “autopreservação” e não somente de conservação ambiental. “Porque a gente faz parte do meio ambiente”, observa.

A internacionalização do que começa na família é um dos objetivos da Baobab, uma associação sem fins lucrativos que visa facilitar a interlocução entre comunidades do Sul Global. A Baobab tem como parceiros o MST, a Federación Rural para la Producción y el Arraigo, da Argentina, a Unión Comunera, da Venezuela, e outras organizações de pequenos agricultores de todo o mundo.

De acordo com o coordenador para a América Latina da Baobab, Luiz Zarref, um dos principais entraves dos pequenos agricultores é a falta de maquinário disponível, adequado para essa escala. “É uma agricultura que ainda não chegou aos avanços do início do século XX, com mecanização básica, de pequenos tratores”, afirma.

A Baobab também visa garantir que os agricultores possam se apropriar da cadeia de cultivo do início ao fim, como ocorre com aqueles que trabalham com o cacau. “Queremos torná-los mais do que meros fornecedores do fruto para países que não os seus e fazer com que se valorize o cacau não como ingrediente de receitas de chocolate, produto que acaba ficando restrito a classes mais elitizadas, muitas vezes, mas por seus nutrientes”, salienta Zarref.

Os membros da Baobab demandam do governo brasileiro um suporte interministerial e consistente, tendo em vista os resultados que a agricultura familiar atinge. “Tem um limite estrutural que é: a agricultura familiar, camponesa, apesar de sua extrema importância alimentar, ecológica e social, não tem um projeto político de fato, pelo Estado brasileiro”, avalia Zarref.

Em resumo, a 5ª Feira Nacional da Reforma Agrária foi um espaço para entender como o MST funciona como coletivo e para conhecer as experiências individuais de pequenos agricultores de todo o Brasil. A conscientização ambiental e a produção orgânica e agroecológica são fundamentais para a sustentabilidade da agricultura familiar, e a internacionalização do que começa na família é um objetivo importante para garantir a sobrevivência e a dignidade dos pequenos agricultores.